Jean Carlo da Silva
2022-10-09
Nascida no início dos anos 2000, ainda em formação de colégio, a banda porto-alegrense tocou seus primeiros acordes em um ambiente efervescente de muita música pop-punk/hardcore/emocore no Brasil e no Mundo. Nesses quase 25 anos, a banda passou por altos e baixos: boom no cenário underground; chegada à uma grande gravadora; mudanças de integrantes; lançamento de DVD; show em grandes festivais; tour na Europa e etc. A banda que, hoje, é formada por Lucas Silveira, Gustavo Mantovani “Vavo” e Thiago Guerra se consolidou de vez no cenário nacional e conta com um grupo de fãs completamente fiel à trajetória da banda.
Um dos fatos que chamam a atenção na trajetória da banda é que, mesmo após tanto tempo na estrada, sempre se mantiveram em evidência. Tem sido muito comum acompanhar - através de redes sociais e portais de notícias - comentários elogiosos sobre o momento da banda, tal qual comentários de fãs e dos próprios integrantes falando em um “novo auge”.
Esse é um dos principais motivos - e, também, por ser minha banda favorita - para olharmos de forma analítica para a obra da banda, buscando entender os momentos de alta e o panorama de novo auge depois de décadas, para responder: o que aconteceu com a Fresno?
Assim, utilizando dados do Spotify, extraídos através do pacote spotifyr{}, o trabalho buscará responder essa questão, tendo como base alguns objetivos, como:
Entender como a Fresno estruturou e organizou seus trabalhos;
Avaliar se houveram mudanças na construção das músicas ao longo do tempo;
Identificar possíveis pontos de preferências do público na obra completa;
Verificar se a estética da banda foi afetada pelo passar dos anos.
Entretanto, antes de seguir com a análise, cabe detalhar algumas variáveis que estão presentes na base de dados do Spotify e serão abordadas no trabalho.
Informações detalhadas das músicas
Ao todo, são 105 músicas que estão distribuídas em 9 álbuns (retirando ep’s, ao vivo e versões deluxe). São aproximadamente 405 minutos de músicas e muita informação.
Como é possível observar, a banda não mudou o “tamanho” dos seus discos, de modo que todos eles tiveram duração bem parecida.
A quantidade média por discos é de 11.7 músicas.
Ao passo que é possível perceber que a Fresno manteve um certo padrão no tamanho de seus discos, é interessante observar como isso foi diferente na composição. Observando a polaridade, podemos notar que a banda teve sua fase de músicas mais “positivas/felizes” (2008 a 2012), mas que, atualmente, tem preferido uma positividade musical mais baixa - diminuindo a energia com a manutenção da valência.
Ao mesmo tempo que a Fresno aposta em uma retomada de uma polaridade emo, também revela sua característica mais “dançável” desde o início da banda. O álbum mais recente (“Vou ter que me virar”) traz 3 das músicas mais “dançantes” da história da banda. Uma ótima demonstração de que a banda aposta forte em uma sofrência dançante.
Observar como a banda também optou por manter a média de batidas por minuto (BPM) nos discos denota uma certa manutenção fiel ao estilo que seguiu e criou. A retomada da média no último disco, após uma leve redução em “Sua Alegria Foi Cancelada (2019)”, aliado ao aumento da dançabilidade, permite entender como a aposta, de fato, está em músicas com força e ritmo.
Observando a popularidade do Spotify, fica um pouco mais evidente como a discografia da banda é positivamente regular. O top10 atual da banda conta com músicas dos primeiros discos (Ciano, 2006), com músicas da primeira metade da história da banda (Revanche, 2010 e Infinito, 2012), até chegar às músicas de sua fasemais recente (Vou ter que me virar, 2021). O público ajuda a entender os vários auges em 25 anos.
Música | Popularidade | Ano de Lançamento |
---|---|---|
Já Faz Tanto Tempo (feat. Lulu Santos) | 51 | 2021 |
Desde Quando Você Se Foi | 50 | 2008 |
Casa Assombrada | 50 | 2021 |
Vou Ter Que Me Virar | 49 | 2021 |
Eu Sei | 48 | 2010 |
Alguém Que Te Faz Sorrir | 45 | 2008 |
Porto Alegre | 45 | 2010 |
Uma Música | 45 | 2008 |
Diga, parte 2 | 34 | 2012 |
Quebre As Correntes | 30 | 2006 |
Com base no que foi exposto e analisado, é possível dizer que o que aconteceu com a Fresno está relacionado a uma aposta na fidelidade de seu estilo e na oxigenação das músicas com novas linguagens. Dessa forma, podemos concluir alguns pontos sobre o que aconteceu com a Fresno:
Apostou em estruturas de discos muito parecidas, sem muitas diferenças de quantidade ou tamanho das suas músicas, garantindo mudanças sutis e a manutenção da marca Fresno;
Diminuiu a intensidade média dos álbuns com o passar dos anos, mantendo a positividade baixa padrão. Esse movimento está diretamente associado a um reforço da sua marca emo da origem da banda;
Manteve a velocidade padrão dos seus álbuns, mas apostou em uma versão mais dançável do seu estilo, acrescendentado muitos elementos de ritmo. Isso denota uma ressignificação da banda acompanhando o amadurecimento do seu público.
Além disso, o mais importante de tudo é que: a Fresno seguiu sendo cada vez mais Fresno.
Obrigado pela leitura.
Análise da discografia da banda Fresno